quinta-feira, 21 de abril de 2011

HISTORIA DO CHARME NO BRASIL


Charmeiro é utilizado para designar os apreciadores de uma vertente da black music (música negra americana), conhecida popularmente no Brasil como charme, termo usado para o R&B contemporâneo no Brasil, que se desenvolveu a partir do urban.

A origem deste estilo remonta uma época paralela à Soul music, nos anos 1970, cuja execução no Brasil foi realizada por DJs como Mister Funk Santos. O charme tem mais do som da Filadéfia pelos arranjos e melodia do que propriamente do Soul, afinal, tratava-se de uma terceira vertente depois do Soul e o funk.

No final de 1976, a Soul music dava sinais de desgaste, seja pela pulverização do repertório ou pela não renovação do seu público. Outro detalhe que apressaria a morte do Soul foi o nascimento de um outro movimento entre jovens brancos da Zona Norte e Oeste do Rio - "O som das Cocotas". Fica aqui o registro que o movimento "Black Rio" era formado por 60% de negros e pardos, 40% de brancos e mestiços pobres da periferia da cidade. O primeiro "baque" sofrido pelo movimento Soul foi, sem dúvida, a descoberta e identificação do som "pop-rock" pelos frequentadores brancos da zona norte. O segundo e definitivo golpe sofrido pela agonizante Soul music foi dado pela revolução trazida pela disco music em 1977. Por ter sido um movimento mundial, a disco music mudou o comportamento, a moda e a cultura dos jovens da Zona Norte do Rio e boa parte de Brasil.

O termo charme (R&B) foi criado por Corello DJ, no Rio de Janeiro, em março de 1980. O DJ Corello começou na época a fazer experiências de outras formas de black music. Ele introduz a musicalidade do charme e as pessoas começam a gostar. Ele não tinha dado um nome para essa experiência, mas observou que quem dançava tinha um movimento corporal bem diferenciado. Em um baile no Mackenzie, no bairro do Méier, o Corello convida: "Chegou a hora do charminho, transe seu corpo bem devagarinho". Essa estória do "charminho" ficou na cabeça das pessoas e elas passaram a falar: "agora eu vou pro charminho, vou ouvir um charme, vou lá no Corello que vai ter charme".

Em 1980 a discoteca se enfraquece como movimento de "dança coletiva", abrindo espaço para o "pop orientado" da gravadoras multinacionais instaladas no Brasil, deixando, por assim dizer, um vácuo musical nas equipes de som do subúrbio do Rio. Corello aproveitou esse "hiato" musical e experimentou músicas e estilos não percebidos por outros DJ's da época.


Personalidades do charme e artistas:

O charme também contou com a colaborção direta de DJ's que abraçaram a causa e começam a romper com a estrutura antiga das equpes de som, segundo a qual, o "dono" da equipe determinava a linha musical a ser seguida sem questionamentos. O primeiro a aderir foi o DJ Marcão da Rádio Tropical do Rio de janeiro, A DJ e locutora Áurea, DJ Marlboro (em início de carreira), Fernandinho DJ, Orlando DJ, entre outros.

No final dos anos 1980 e início dos 90, surgiram os primeiros artistas nacionais que começaram a produzir músicas no Brasil ou a adaptar antigas canções para este gênero musical. Dentre estes cantores destacam-se: Alexandre Lucas (como vocalista da Banda Fanzine ou em sua carreira solo), Edmon, Abdula, Marta Vasconcelos, o conjunto Fat Family, Sampa Crew, Copacabana Beat, Claudinho & Buchecha[3], Marina Lima, Fernanda Abreu, D'Black e Shirley Carvalho.

As músicas de estilo charme passaram também a ser executadas nas rádios, nas freqüências FM e AM. Nas décadas de 80 e 90 surgiram vários programas especializados em charme. Na rádio 98 FM, Fernandinho DJ produzia o "Só Mix 98", na Jovem Rio Corello apresentava o "MixMania" e o "Black Beat" (FM 105) e outros programas, como os de funk, passaram a dedicar espaços específicos para a execução de charme, proporcionando assim maior dimensão ao movimento charme.

Mc Dollores e Mc Marquinhos compuseram um funk melody intitulado "Rap da Diferença"[2], cuja letra era:
Qual a diferença entre o charm e o funk
Um anda bonito o outro elegante
Qual a diferença entre o charm e o funk
O Marquinhos anda bonito e o Dollores elegante







Bailes charme:

A cada baile esse espaço crescia e em pouco tempo tinhamos um baile só de Charme, o único no Rio de Janeiro.
Esse nome "CHARME", passou a abranger todas as músicas de R&B que possuiam uma construção melódica definida(primeiro verso, segundo verso, bridge e coro). Paralelamente apareceram os CHARMEIROS que se baseavamm na elegância no vestir, no comporta mento exemplar e o gosto pelo R&B. Varios DJ’s aderiram ao estilo e passaram a tocar nos seus bailes, sets de charme como o Renascencia Club, Cassino Bangu, CCIP de Pilares, Grêmio de Rocha Miranda, até a equipe Furacão 2000 tinha o seu bloco de charme. Em 1984, surge a equipe Cassino Disco Club no Cassino Bangu com Corello DJ, mais a frente de volta ao Cessp e no Rosas de Ouro, nascia a equipe Só Mix- a n. 1 do Charme em l985 com a união dos DJ’s Corello e Fernandinho, dominando a cena Black da cidade com discos raros de dificil acesso. O templo do charme era o Gremio Recreativo Vera Cruz ou Vera como era conhecido no bairro da Abolição, extendendo-se ao Cine Show Madureira e Portelão.
O movimento teve ápice com as apresentações internacionais de Glenn Jones, Sybil, Curtis Hariston e Omar Chandller. Não posso deixar de citar o fajoso baile do Disco Voador em Marechal Hermes com os DJ’s Claudinho Careca e Orlando da Cassino Disco Club, que faziam a festa aos domingos, com a casa super lotada. No rádio, o charme entrou no ar em 1980, com o programa Trop Music na radio Tropical FM com o Dj Markão com as mixagens fenomenais, Robson França na locução e o DJ Marlboro na coordenação. Quase na mesma época, rolava o programa Rítijos de Boite pela rádio Mundial AM/860, diariamente a meia-noite (as mixagens eram meia-boca mais as músicas de primeira).
Em 1983 surge o programa Só Mix na rádio 98 FM, com Fernandinho DJ e suas mixagens mirabolantes, diariamente. Em 1984, Corello DJ estréia o seu programa na rádio Jovem Rio FM, o programa Mix Mania. A rádio Cidade FM-1029 teve sua participação com dois excelentes programas de Charme Cidade Quiet Storm apresentado por Kaká e o Night Fly, ambos dedicados ao estilo mais romântico do charme (quiet storm/slow jam). Vários outros programas foram voltados ao charme: O balanço da Manchete; Clube do Som; Special Charme; Som na Caixa na rádio Panorama; Laizer Mix e o Charme Pan com Fernandinho DJ, Soul charme com os DJ’S Artur e Pc; Black Beat teve duas versões. A primeira com Corello DJ aos sábados na FM 105 e a segunda com Loppy DJ na RPC durante a semana e para fechar Fernandinho DJ com Charme Pan e Corello DJ com o Seis e Dance.
Uma década depois, surge um novo conceito de baile de charme na cidade denominado HAPPY HOUR, onde a turma sai do "trampo" e vai curtir charme até as horas, quebrando assim a rotina da semana. Em Madureira, terra do samba, surge o projeto inovador e ousado "O Charme na Rua", onde as pessoas curtiam Charme aos sábado de 22:00 as 05:00 da manhã sem pagar nada, com vários dj’s se revesando, hoje completando 15 anos de sucesso e com novo nome – Projeto Rio Charme. Vários points de Charme vem surgindo na cidade devido ao grande números de dj’s que representam o R&B. Corello DJ (o pai do charme), continua na ativa com o programa Soul Hip Hop aos sábado na 98 FM.
Enfim, esse é um pequeno resumo da história do Charme . Se deixei de citar algum momento importante, peço desculpas pois são duas décadas e meia resumidas em poucas linhas. Agradeço a todos os dj’s que abraçaram a causa e caminham juntos, unindo forças para o crescimento do R&B no Brasil, e não deixando de lado o R&B nacional pois temos grandes nomes representando muito bem a Black Music, pode acreditar.

                                                                  SURFACE-HAPPY

ARNALDO FAGUNDES

6 comentários:

  1. Adorei o texto....vc foi correto e justo nos detalhes.
    Corello Dj

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  2. Foi uma boa fonte de informação. Mas, fiquei sem saber, que fim levou o movimento. Gosto de ouvir e dançar Hip Hoo. Porém, o Charme, amo de paixão e procuro CDs, não encontro.
    Por favor, faça uma atualização do movimento!
    Maria do Rosario Serra

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    1. O movimentou não terminou, continua a todo o vapor!
      O nome "Charme" é de origem nacional,dado pelo colega Corello como diz a reportagem, os artistas são de outros paises e de um segmento chamado Rythm&Blues ou simplesmente, R&B.
      Procure por este ritmo e achará o nosso maravilhoso Charme!

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  3. Foi uma boa fonte de informação. Mas, fiquei sem saber, que fim levou o movimento. Gosto de ouvir e dançar Hip Hoo. Porém, o Charme, amo de paixão e procuro CDs, não encontro.
    Por favor, faça uma atualização do movimento!
    Maria do Rosario Serra

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  4. Gostei e vou fazer um trabalho sobre inclusão de pessoas com deficiência, utilizando o ritmo e a expressão CHARME.
    CHARME NA DIFERENÇA!

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